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In memoriam de Adelino Augusto Torres Guimarães

O Professor Doutor Adelino Torres deixou-nos no passado dia 4 de março. Um verdadeiro alicerce do edifício que é o ISEG, Adelino Torres foi professor e investigador na nossa Escola de 1976 a 2009 quando, como professor catedrático da área de Economia, se jubilou. Licenciado e Mestre em Sociologia pela Universidade de Paris-Sorbonne, foi orientado por Georges Balandier, professor e intelectual incontornável daquela universidade e proponente de uma nova visão dos estudos africanos, área de investigação e lecionação tão cara a Adelino Torres. Mais tarde, doutorou-se em Economia pelo ISEG/UTL sob a responsabilidade de Francisco Pereira de Moura, figura inesquecível da nossa Escola. Ao longo dos anos em que foi professor ocupou diversas responsabilidades em orgãos de gestão tais como presidente do Conselho Pedagógico ou Presidente do Departamento de Economia. Foi um dos grandes entusiastas e divulgador pela área dos Estudos do Desenvolvimento e dos estudos africanos em particular. Nessa esteira, foi Coordenador do Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional tendo sido um dos responsáveias pela sua criação. A sua obra publicada é vasta e inclui dez livros e dos quais não se pode deixar de mencionar O Império Português entre o Real e o Imaginário (1991) ou Horizontes do Desenvolvimento Africano no Limiar do Século XXI (1999), dezenas de artigos em revistas académicas nacionais e estrangeiras, capítulos de livros ou ainda professor visitante em Portugal e no estrangeiro, com inúmeras participações em conferências, colóquios e seminários. A orientação de um elevado número de dissertações de mestrado e de doutoramento completam a sua dedição à nossa Escola e à Academia. O reconhecimento do seu rigor científico e das suas qualidades humanas justificaram importantes convites institucionais como, por exemplo, delegado em Portugal da ESF – European Science Foundation ou membro da Academia Internacional da Cultura Portuguesa. Mas Adelino Torres não foi apenas um excelente pedagogo e investigador. Tem uma obra poética vasta composta por sete livros, o último dos quais datado de 2014. No entanto, esta verve teve a sua iniciação nos finais dos anos 50 do século passado em Luanda, então colónia de Portugal, e que se concretiza na edição de uma obra colectiva em 1961. Imbuída de um espiríto nacionalista e anti-colonial, ela despertou a atenção da então polícia política, a PIDE. Esta militância obriga-o, pouco depois, a ter de fugir para a Argélia onde permaneceu uns anos antes de se fixar em França e iniciar aquilo que seria o seu percurso académico.

Mas nesta dolorosa despedida a Adelino Torres, despedida que ele descreve num dos seus poemas (Aqui jaz alguém/que preferia não ter ido/o que prova aos mais teimosos/que só a vontade não chega), não se pode deixar de realçar o seu brilhante lado de pedagogo e que se consubstanciava numa das suas frases favoritas ‘sem alunos não se justifica a minha existência’. A sua generosidade para com eles era incomensurável. Dotado de uma enorme curiosidade e perspicácia científica, dificilmente se contentava com explicações simplistas (como escreve num poema Compreender/não é um modo de conhecimento/mas um modo de ser) e isso levava-o a incutir nos alunos e a incentivar a leitura de filosofia do conhecimento, em particular o racionalismo crítico tão caro a Popper, Kuhn e Lakatos. Deixou inéditos sobre filosofia e, nomeadamente, filosofia africana, uma das últimas suas paixões.

Tutondele (obrigado) Adelino Torres.

Manuel Ennes Ferreira
Professor do ISEG


Informação sobre as cerimónias fúnebres:

  • Domingo (10 de março), das 17h00 às 22h00: Velório na Capela Mortuária da Igreja da Parede
  • Segunda-feira (11 de março), das 13h30 às 15h00: Homenagem na Capela Mortuária da Igreja da Parede
  • Segunda-feira (11 de março), às 16h00: Crematório de Rio de Mouro, Sintra