DESAFIOS E DILEMAS NO SETOR DA GESTÃO DOS RESÍDUOS URBANOS EM EMPRESAS PORTUGUESAS

A partir da questão inicial «De que forma, em Portugal, as empresas de gestão de resíduos urbanos compatibilizam responsabilidade social e sustentabilidade ambiental inerentes ao seu papel de catalisadores da Economia Circular com os seus objetivos de lucro?», este trabalho procura perceber até que ponto as empresas portuguesas de resíduos urbanos (RU) objeto de estudo desenham os seus modelos de negócio posicionando-se estrategicamente numa cadeia de produção circular que gere valor acrescido, cumprindo com eficácia o seu papel determinante para a sustentabilidade ambiental, económica e social da economia global, ao mesmo tempo que procuram atingir os seus objetivos de lucro. A investigação incide sobre as atividades de recolha, separação, reciclagem e reutilização de RU de quatro empresas de gestão de RU, com foco no desenvolvimento tecnológico, num contexto de Economia Circular (EC). São identificados entraves, dilemas, desafios, apoios e incentivos na gestão de RU, em Portugal, avaliadas a adequação e eficácia das opções de intervenção e dos meios, nomeadamente os tecnológicos, que estas disponibilizam, face à Lei, objetivos da EC e metas definidas pela União Europeia. Os desafios prendem-se essencialmente com o cumprimento das metas definidas pela EU, através do aumento da capacidade de investimento em infraestruturas e em inovação e tecnologia que permita reduzir os gastos energéticos operacionais e aumentar as taxas de resíduos que seguem para a indústria, para reciclagem e aproveitamento energético. Os maiores entraves a estes objetivos resultam da falta de financiamento público, para além do comunitário, e das limitações impostas pela lei e pela regulamentação e ainda o défice e assimetrias regionais que existem ao nível dos incentivos à população, sob a forma de vantagens nos custos energéticos para quem assume comportamentos amigos do ambiente na produção de resíduos na origem e no empenho na sua separação. O dilema responsabilidade social vs maximização de lucro é gerido pelas empresas na perspetiva da utilidade pública, se bem que estas perspetivem boas oportunidades de negócio pela crescente otimização da sua reciclagem em subprodutos que previsivelmente cada vez mais valorizados pelo mercado, tal como acontece nos países europeus de referência no setor.