Análise Comportamental da População Portuguesa Durante um Cenário Pandémico: Abordagem de Séries Temporais

Durante o período da atual pandemia Covid-19, a eficácia da comunicação dirigida à população tem sido um dos maiores desafios das autoridades políticas e sanitárias. Com base no modelo COM-B (Capability, Oportunity, Motivation e Behavior) proposto por Michie et al. (2011), sobejamente utilizado na área das ciências comportamentais, pretende-se perceber que papel teve a comunicação das autoridades na adoção de comportamentos preventivos por parte da população portuguesa. De forma complementar, será interessante perceber se a população respondeu de forma semelhante face aos mesmos estímulos ou se foi ajustando os seus comportamentos em função das especificidades de cada momento. Realça-se que a monitorização de quadros comportamentais ao longo do tempo não tem sido muito explorada nas publicações científicas existentes na área da Economia, razão pela qual este estudo gera uma contribuição inovadora nesta matéria. Na base de dados recolhida, destaca-se, entre outras, o nível de confinamento diário da população, fornecido pelo Painel Mobilidade PSE, para o período compreendido entre 1 de março de 2020 a 31 de março de 2021. Empregou-se a metodologia dos modelos de Séries Temporais ADL com o objetivo de relacionar o confinamento diário com os determinantes preconizadores do modelo COM-B. Encontrou-se forte evidência a favor da eficácia de uma comunicação assente em medidas fortemente restritivas sobre a contenção dos contactos sociais por parte dos portugueses, como a suspensão da atividade letiva presencial. Por outro lado, um estilo comunicacional baseado em medidas avulsas e pontuais, como a proibição de circular entre concelhos, terá produzido efeitos contraproducentes no confinamento da população. O cenário de fadiga pandémica da população, devidamente testado, também obteve suporte estatístico. As conclusões dos testes de Bai e Perron (2003) apontam para a existência de um conjunto de momentos em que a resposta da população face aos determinantes do modelo COM-B se alterou estruturalmente.