Percorrer o catálogo de música de câmara de Ludwig van Beethoven é uma maneira interessante de entender os impulsos e os impasses de um trajeto criativo onde normalmente se destacam as composições mais imponentes e mais tardias. Neste programa temos a oportunidade de conhecer três composições que remontam ao período em que o músico rondava os trinta anos de idade. Coincide, portanto, com o fim do «primeiro período criativo de Beethoven», durante o qual emergiu um estilo de escrita único, baseado em Haydn e em Mozart, mas transcendendo todas as expectativas. É bom lembrar que foi pela mesma altura que teve lugar a estreia da Sinfonia N.º 1, em abril de 1800, e que já tinham passado mais de sete anos desde que o músico se instalara em Viena.
Os Solistas da Metropolitana começam por interpretar a Sonata para Violino e Piano N.º 4. São três andamentos que demonstram bem aquele cunho vanguardista, com ideias musicais curtas e incisivas, contrastes dinâmicos, fraseios imprevisíveis que contrariam as preferências delico-doces. Já a Sonata para Violoncelo N.º 1 havia sido composta quatro anos antes, em 1796, curiosamente em Berlim, durante uma digressão. Foi, por isso, dedicada a Frederico Guilherme II, pouco tempo antes de ser tornar rei da Prússia. Curiosamente, esta obra limita-se a dois andamentos: uma introdução solene, à maneira das sinfonias de Haydn, e o bom humor de um Rondó cheio de caráter. Por fim, violino, violoncelo e piano juntam-se num trio cuja partitura permite a possibilidade de substituir o violino pelo clarinete. Destaca-se, ainda, a curiosidade de o seu último andamento consistir numa série de variações sobre uma melodia que seria então muito popular em Viena e que provinha da ópera L’amor marinaro, de Joseph Weigl. Explica-se assim a razão deste trio ser também conhecido pelo nome de Gassenhauer («canção popular», em alemão). E, cena, é uma ária cantada ao pequeno almoço por um professor de música com apetite insaciável.
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