Carga fiscal e burocracia condicionam crescimento das empresas
21-03-2025
“Plaforma Bridgewhat dispõe de uma bolsa de consultores constituída por decisores ex-C-Level”
“A elevada carga fiscal e os custos associados a procedimentos administrativos muito burocratizados condicionam o crescimento das empresas” – afirma Vítor Santos, ex-secretário de Estado da Indústria e Energia e ex-presidente da ERSE.
Na opinião do advisor da Bridgewhat, as PME enfrentam também restrições no acesso ao financiamento, escassez de talentos e qualificação e dificuldade de internacionalização. “A superação destas barreiras passa pela promoção de políticas públicas incentivadoras, pelo apoio de consultoria especializada, pelo investimento na formação contínua, pela participação em redes de cooperação empresarial”, acrescenta.
Vida Económica – Em que funções assumiu responsabilidades na sua vida profissional? Quais aquelas que o/a marcaram mais?
Vítor Santos – Professor Catedrático de Economia no ISEG, presidente da ERSE e secretário de Estado da Indústria e Energia foram as funções que mais me marcaram.
Partilhar conhecimento e contribuir para a formação das gerações futuras é um grande privilégio e motivo da maior satisfação pessoal. Como dizia Paulo Freire, “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção”.
A regulação económica justifica-se pela necessidade de corrigir as falhas de mercado decorrentes da existência de externalidades, das estratégias anti-competitivas das empresas que beneficiam de poder de mercado ou daquelas que operam como monopólios naturais e, finalmente, das distorções que podem resultar da existência de informação imperfeita ou assimétrica. O papel do regulador é acompanhar a dinâmica do setor, nomeadamente o desenvolvimento dos mercados energéticos, e antecipar desafios futuros, o que muitas vezes se consolida na emergência de novos instrumentos de regulação económica.
As políticas públicas visam estimular o crescimento económico, assegurar a estabilização macroeconómica e minimizar as assimetrias na repartição de rendimentos. Por isso mesmo, ser promotor de políticas públicas é uma atividade desafiante pelos seus reflexos no bem-estar dos nossos concidadãos.
VE – Em que geografias trabalhou? Dê-me exemplos de lições aprendidas em algumas dessas geografias.
VS – Os professores e os reguladores trabalham, cada vez mais, em plataformas muito abrangentes de cooperação internacional que são um manancial de conhecimento e de aprendizagem.
A participação, como professor visitante, nas melhores universidades americanas, como é o caso de Stanford, ou o acompanhamento do debate sobre o processo de liberalização e a transição energética nas instituições da União Europeia dá-nos uma mundivivência e uma panorâmica das grandes tendências que marcam o presente e o futuro.
A interação com os reguladores da orla do Mediterrânio ou dos países da África Subsariana dá-nos uma perspetiva multicultural e estimula a predisposição para a partilha das melhores práticas regulatórias ou de novos modelos de negócio indutores de um modelo de crescimento sustentado e inclusivo.
Mantenho, desde a viragem do milénio, uma relação de cooperação muito produtiva com diversas instituições do Brasil do setor energético e, nomeadamente, com o Gesel, um centro de excelência, sediado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e especializado na investigação sobre o setor energético. Esta cooperação com um país de dimensão continental e dotado de um setor elétrico comum regulador (a Aneel) de excelente qualidade, de empresas de que são uma referência à escala global e de uma plêiade de especialistas em energia muito reputados tem permitido uma fertilização cruzada que tem beneficiado ambas as margens do Atlântico.
Regulador na ERSE durante 11 anos
VE – Quais os principais setores que marcaram a sua carreira? Refira algumas particularidades de alguns deles.
VS – A minha carreira tem sido marcada pela atividade nos seguintes setores: Ensino Universitário; Regulação e Políticas Públicas e Consultoria Estratégica na Indústria, Energia e Ambiente.
Desenvolvi a minha atividade como professor em duas instituições de ensino: o Instituto Superior Técnico (durante seis anos) e no ISEG aonde me reformei com a categoria de Professor Catedrático. A circunstância de ter trabalhado em duas escolas que integram áreas tão distintas (diferentes ramos da engenharia, economia e gestão) sensibilizou-me para as virtualidades das abordagens interdisciplinares que acabaram por ser muito relevantes para a Consultoria Estratégica e para regulação da energia.
Exerci funções como regulador na ERSE durante 11 anos.
Neste momento, desenvolvo atividade como consultor nas áreas da Energia, Indústria e Ambiente.
VE – Em que áreas se vê a ajudar as empresas no momento atual? Dê exemplos de alguns desafios típicos dessas áreas.
VS – Os temas relacionados com a transição energética são, porventura, aqueles em que posso dar contributos mais relevantes para as empresas. Destacaria os seguintes temas: promoção da eficiência energética, estratégias de descarbonização, implementação de práticas sustentáveis em linha com critérios ESG (Environmental, Social, Governance), adaptação a regulamentações ambientais nacionais e da UE, apoio à elaboração de projetos relacionados com sistema de incentivos para as diferentes dimensões da transição energética.
O apoio às estratégias de internacionalização das PME é uma outra área em que poderia dar um contributo: identificação de mercados-alvo para exportação e desenvolvimento de estratégias para entrada e consolidação em mercados internacionais.
Barreiras ao crescimento das PME
VE – Quais considera ser as principais barreiras ao crescimento que muitas empresas enfrentam? Dê algumas sugestões para as ultrapassar.
VS – As PME defrontam-se com uma grande diversidade de barreiras ao crescimento. A título ilustrativo, referia algumas daquelas que me parecem mais relevantes.
Restrições no acesso ao financiamento com destaque para os seguintes constrangimentos: dificuldades em obter crédito bancário devido a garantias exigidas e histórico financeiro limitado; falta de conhecimento sobre alternativas de financiamento, como fundos europeus, capital de risco ou crowdfunding; taxas de juro elevadas, dificultando o investimento em expansão.
Escassez de talentos e qualificações adequadas: desvantagem competitiva na atração de profissionais qualificados, nomeadamente, nas áreas tecnológica e da inovação bem como o insuficiente investimento na formação contínua
A elevada carga fiscal e os custos associados a procedimentos administrativos muito burocratizados condicionam o crescimento das empresas.
Desvantagem no mercado doméstico face a empresas de maiordimensão dotadas de estratégias mais competitivas e, sobretudo, dificuldade em dar o salto para a internacionalização.
A superação destas barreiras passapela promoção de políticas públicas incentivadoras, pelo apoio de consultoria especializada, pelo investimento na formação contínua, pela participação em redes de cooperação empresarial.
VE – Como pode o projeto Bridgewhat ajudar as empresas a crescer? Que características o tornam um projeto diferenciador?
VS – Na resposta anterior sublinhámos que a consultoria especializada poderia ser, muitas vezes, um fator diferenciador entre a estagnação eo crescimento.
A plaforma Bridgewhat dispõe de uma bolsa de consultores constituída por decisores ex-C-Level que, pela sua experiência pessoal, podem contribuir para fazer a diferença no desempenho das empresas.