Onde andam e o que fazem os atletas que representaram Portugal?
02-07-2023
Mulheres são apenas 16% do universo olímpico português. O atletismo reina em praticantes e medalhas, e deu os cinco ouros da história. Dos 811 atletas vivos, 10% está desempregado e 5% vive no estrangeiro.
Dos 811 atletas olímpicos por Portugal ainda vivos, cerca de 200 representaram Portugal no atletismo, a modalidade que mais medalhas deu em 113 anos. Em termos de clubes, o Sporting é o que mais atletas de elite emprestou ao País e também o que mais medalhas deu a ganhar.
Estes dados fazem parte de um estudo da Associação de Atletas Olímpicos por Portugal (AAOP), a que o DN teve acesso, e que serão apresentados no próximo dia 8, em Matosinhos, durante a cerimónia do 20.º aniversário da associação liderada por Luís Monteiro, também ele um olímpico com participação no pentatlo dos históricos Jogos Los Angeles 1984 – a competição do primeiro ouro português conquistado por Carlos Lopes.
A base de dados dos olímpicos foi desenvolvida pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e pretende dar resposta às perguntas mais frequentes – onde estão os atletas, o que fazem e os que precisam de ajuda. Foi para chegar a quem está numa situação de debilidade, seja financeira, física ou psicológica, que a AAOP avançou para o levantamento global dos atletas que defenderam as cores nacionais. Agora é possível saber que os desempregados rondam os 10% e que cerca de 5% vive no estrangeiro, por exemplo.
Reformados, médicos, treinadores…
O pós-carreira é uma das lutas da AAOP. Criada em 2003, a associação continua a receber dezenas de pedidos de ajuda de atletas em dificuldade. Os desempregados andam nos 10%. Os reformados, os que viraram treinadores e os que são empresários em nome próprio representam metade do universo dos olímpicos de Portugal.
Nem todos se prepararam para o adeus à competição e as instituições não deram saídas profissionais. Mas há muitos e bons exemplo. Alexandre Yokochi (58 anos) é professor universitário e investigador na área da eficiência energética da Baylor University, nos EUA. Em 1984, tornou-se o primeiro (e único) português a chegar a uma final olímpica de natação – ficou em 7.º nos 200 metros bruços. Retirou-se da piscinas em 1992 com apenas 27 anos e foi tirar um doutoramento para o Texas, ficando por lá até hoje.
Gentil Martins tem hoje 92 anos e foi um dos fundadores da AAOP. Tornou-se um conceituado cirurgião plástico e cirurgião pediatra depois de participar no tiro, em Roma 1960. Paulo Trindade (ex-nadador) é engenheiro em Omã e António Abrantes (ex-velocista) professor universitário em Nancy, na França. Sameiro Araújo (63 anos) é treinadora e vice-presidente da Câmara Municipal de Braga e vice-presidente do Comité Olímpico de Portugal. Rui Frazão (ex-judoca) é engenheiro e trabalha na Alemanha. Francis Obikwelu (44 anos) foi prata nos 100 metros de Atenas 2004, e hoje é treinador e empresário, estando ligado à SAD do Vitória de Setúbal.
E também há os que desapareceram. Uns por opção outros nem tanto. Há dois ou três casos a necessitar de ajuda financeira urgente e apenas dois atletas incontactáveis: os velocistas Lucrécia Jardim (52 anos) e Luís Cunha (59 anos).
100% do ouro é do atletismo
Portugal esteve representado em 25 edições dos Jogos Olímpicos em 29 modalidades. O atletismo é rei e senhor. Quase um quarto dos atletas que vestiram as quinas fizeram-no a competir no atletismo, modalidade que domina também no capitulo das medalhas (11 em 28), sendo dona de 100% dos ouros – Carlos Lopes (maratona, Los Angeles84), Rosa Mota (maratona, Seoul88), Fernanda Ribeiro (10 mil metros Sidnei2000), Nelson Évora (triplo salto Pequim2008) e Pedro Pichardo (triplo salto Tóquio2020). Estes são, aliás, os únicos campeões olímpico do desporto português.
A natação é a segunda modalidade com mais presenças, seguida da vela (a segunda mais medalhada, com quatro pódios), esgrima e o equestre, que deu a primeira medalha em 1924 – um bronze, conquistado por António Borges d”Almeida, Hélder de Souza Martins, Luís Cardoso Meneses e José Mouzinho d”Albuquerque.
O tiro, remo, judo, ginástica e a canoagem, que ganhou expressão nos últimos anos à boleia de canoístas como Fernando Pimenta (duplo medalhado), também figuram entre as modalidades mais representadas.
No que toca ao medalheiro, Portugal tem 28 pódios olímpicos: Cinco ouros, nove pratas e 14 bronzes. Em Tóquio 2020, Portugal conquistou quatro, um recorde: Pedro Pichardo (ouro), Patrícia Mamona (prata), Jorge Fonseca (bronze) e Fernando Pimenta (bronze).
Sporting deu mais atletas e medalhas
O Sporting foi o clube que mais atletas deu a Portugal, no que a Jogos Olímpicos diz respeito. Um pouco à boleia do atletismo e dos tempos áureos de Moniz Pereira, o clube leonino foi o que mais vezes constou das fichas de admissão, seguido do Benfica e do Belenenses. O Sporting é também aquele que mais medalhas proporcionou (5), seguido do Benfica (3), FC Porto e CAP (2 cada).
Quase 50% dos olímpicos de Portugal são naturais da região de Lisboa, que é também o concelho com mais representatividade, seguido de Oeiras, Cascais e Porto. Vila Real e São Miguel estão na cauda da lista com menos de metade de 1%. Mas quantidade não é qualidade. Viseu viu nascer o primeiro campeão olímpico português, Carlos Lopes, mas é dos distritos que menos atletas de topo deu ao País. O Funchal está a meio da tabela e pode orgulhar-se de ter visto nascer o atleta com mais participações. Hoje com 44 anos, o velejador João Rodrigues tem sete presenças em Jogos Olímpicos no currículo como atleta e mais um como adido olímpico (Tóquio 2020). Atualmente é vogal do Comité Olímpico de Portugal (COP).
Duas pioneiras já morreram
A participação feminina iniciou-se em 1952, 40 anos após a estreia de Portugal nos Jogos Olímpicos de Estocolmo1912. As ginastas Dália Cunha, Natália Cunha e Laura Amorim foram as pioneiras – competiram no concurso individual de ginástica aplicada. Depois delas, mais 135 mulheres (incluindo três nos desportos de inverno) lhes seguiram o exemplo, mas o universo feminino representa apenas 16% dos olímpicos portugueses.
Das 138 mulheres que representaram o País na maior competição desportiva do mundo, quatro já morreram – as irmãs Dália e Natália Cunha, a voleibolista Cristina Pereira e a lançadora Teresa Machado. A primeira medalha feminina só apareceu 32 anos depois de Helsínquia. Rosa Mota conquistou um bronze na maratona de Los Angeles1984 e é também dona do primeiro ouro (maratona, Seul1988).
Das cinco medalhadas da histórias, duas estão ainda em atividade: Telma Monteiro (bronze no judo, Rio 2016) e Patrícia Mamona (prata no triplo salto, Tóquio 2020). As outras duas são Fernanda Ribeiro (10 mil metros, Sidnei 2000) e Vanessa Fernandes (triatlo, Pequim 2008).
isaura.almeida@dn.pt
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